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Desenvolvedores brasileiros cobram melhorias da Gamescom Latam após problemas! Veja carta aberta

Após problemas na edição de 2025, que foram denunciados em reportagem do Voxel, desenvolvedores sugerem melhorias no evento, que recebe incentivos fiscais e apoio da Lei Rouanet

Avatar do(a) autor(a): Mateus Mognon

26/05/2025, às 19:39

Atualizado em 15/07/2025, às 15:42

Desenvolvedores brasileiros cobram melhorias da Gamescom Latam após problemas! Veja carta aberta

Um coletivo de desenvolvedores brasileiros publicou uma carta aberta sugerindo melhorias no evento Gamescom Latam, incluindo mais segurança e apoio a palestrantes e criadores do nosso país. O movimento ocorre após denúncias de game devs, compartilhadas em reportagem do Voxel, sobre as condições de trabalho na feira em 2025.

Assinada por mais de 250 pessoas, a carta aberta compartilhada pelo Coletivo Devs Unidos (GDU) sugere 12 melhorias para que a Gamescom Latam ofereça melhor estrutura para criadores independentes. Entre as indicações, o grupo sugere aprimoramentos como auxílio-transporte e cachê para palestrantes, além de equipamentos básicos e sala de descanso para quem estiver apresentando seus jogos para o público.

“Eventos no mundo todo fomentam e incentivam os desenvolvedores independentes de seus próprios países. Auxiliar o desenvolvedor pequeno, que muitas vezes está expondo o seu primeiro jogo, é o primeiro passo para termos uma indústria saudável desde a base”, diz a carta. “No Brasil, diversos eventos já cumprem esse papel. Até mesmo eventos fora do país reconhecem e auxiliam desenvolvedores brasileiros com incentivos. Porém, sente-se que a Gamescom ainda tem muito a melhorar nesse quesito.”

“Eventos no mundo todo fomentam e incentivam os desenvolvedores independentes de seus próprios países.”

A carta recebeu assinatura de desenvolvedores e estúdios renomados do Brasil, incluindo nomes por trás de projetos populares como Blazing Chrome, Vampire Survivors e Celeste, que concorreu ao prêmio de jogo do ano no The Game Awards. Além disso, o manifesto conta com apoiadores internacionais, incluindo o youtuber Jacob Geller, que visitou a Gamescom Latam.

Melhorias sugeridas por desenvolvedores para a Gamescom Latam

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Coletivo Game Devs Unidos divulgou carta solicitando melhorias na Gamescom Latam.

Você pode conferir abaixo a lista completa de sugestões de melhorias da carta aberta do coletivo de desenvolvedores:

  1. Auxílio Transporte para desenvolvedores expondo no Panorama Brasil, incluindo aqueles de São Paulo;
  2. Auxílio Transporte para os finalistas do BIG Festival, incluindo os de SP;
  3. Auxílio transporte e cachê para palestrantes;
  4. Voucher de Alimentação dentro do evento para todos os desenvolvedores do Panorama Brasil;
  5. Voucher de Alimentação dentro do evento para desenvolvedores do BIG Festival;
  6. Voucher de Alimentação dentro do evento para os palestrantes;
  7. Sala de descanso para desenvolvedores, similar à que a imprensa tem acesso;
  8. Telas para exposição dos jogos disponíveis sem custo extra para todos os desenvolvedores do Panorama Brasil;
  9. Extensões de tomada disponíveis sem custo extra para todos os desenvolvedores do Panorama Brasil;
  10. Staff para ajudar os desenvolvedores do Panorama Brasil com o público, inclusive parapermanecer no estande nos momentos de saída para ir ao banheiro ou se alimentar. (A carga atual, de até 12 horas por dia, e com aplicação de multa no caso de saída do estande, é completamente inviável);
  11. Guarda-volumes sem custos para expositores;
  12. Mais segurança no evento, a fim de evitar furtos (como ocorrido na última edição).

A carta aberta dos desenvolvedores, que também inclui mais contexto e argumentos envolvendo a cobrança de melhorias, pode ser lida aqui.

Devs reclamaram de segurança e condições no evento de games

Logo após a realização da Gamescom Latam, desenvolvedores brasileiros reclamaram das condições oferecidas pelo evento, especialmente no espaço Panorama Brasil, voltado para jogos indies. O evento foi acusado de não oferecer estrutura básica para os estúdios, com limitações de cadeiras e equipamentos, além de recusar incentivo para palestrantes.

CARTA ABERTA À GAMESCOM LATAM: drive.google.com/file/d/1p86T...

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Outro ponto que gerou debate foi a questão de segurança. Além de um desenvolvedor relatar que teve um objeto furtado durante o evento, a organização também oferecia armários com cadeado por uma taxa extra para guardar equipamentos.

Em suas reclamações após o evento, os desenvolvedores brasileiros também apontaram a ausência de qualquer incentivo fiscal por parte da Gamescom Latam, até mesmo para palestrantes. Segundo os relatos, a organização não oferece qualquer ajuda de transporte e alimentação para os membros de estúdios presentes no evento.

Desenvolvedores rebatem críticas e apontam que evento foi realizado com auxílio de dinheiro público e Lei Rouanet

Na carta aberta, os desenvolvedores rebateram críticas que apareceram na internet após as reclamações sobre a feira ganharem tração. O coletivo aponta que existem outros eventos, nacionais e internacionais, que oferecem ajuda de custo para devs independentes e palestrantes.

“Justamente por termos desenvolvedores experientes no cenário, sabemos que, fora do eixo de eventos como a Gamescom Latam ou BGS, é comum que os eventos forneçam auxílios para desenvolvedores independentes”, diz a carta aberta. O coletivo menciona feiras como a GDC, que oferece até US$ 500 para desenvolvedores palestrantes, e o Festival Jogatório, que traz estande gratuito e ajuda até mesmo para viagem.

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Carta do coletivo de desenvolvedores inclui orçamento da Gamescom Latam declarado para a Prefeitura de S.Paulo.

O texto também ressalta que a Gamescom Latam 2025 foi realizada com um alto orçamento, conta com apoio fiscal público e da Lei Rouanet. Segundo os desenvolvedores, oferecer o apoio solicitado custaria em torno de 40 a 60 mil reais, o que representaria 0,15% do investimento do evento. O valor declarado no orçamento apresentado para a Prefeitura de São Paulo no começo do ano é de aproximadamente R$ 22,8 milhões.

“Mais de 50 vezes esse valor foi utilizado apenas no marketing do evento[...], e quase 3 vezes o valor tão somente no Coquetel exclusivo de pré-lançamento (evento fechado com buffet, apenas para convidados exclusivos)”, ressalta o texto. A carta aponta que parte do dinheiro da Abragames destinado para a feira foi utilizado para trazer influenciadores estrangeiros para o evento, como Jacob Geller, que também assina o manifesto em busca de melhorias para desenvolvedores e palestrantes.

Jogos indies também são atrações na Gamescom Latam, indicam devs

O coletivo de desenvolvedores ainda ressalta que os jogos indies também são vistos como atrações dentro da Gamescom Latam, que nasceu como BIG Festival, evento voltado para produções independente. A carta ainda aponta que alguns estúdios não conseguem vender produtos, pois os títulos apresentados costumam estar em período de pré-lançamento.

“Diferente de uma feira puramente comercial, a grande maioria dos desenvolvedores não está no evento para vender diretamente sua mercadoria para o público. Principalmente porque muitos dos jogos disponíveis em feiras ainda não estão disponíveis para compra”, explica o manifesto.

"Frequentemente os desenvolvedores oferecem experiências de entretenimento diretamente para o público, enquanto saem em prejuízo financeiro em troca de vantagens mais abstratas, como 'visibilidade' e 'networking'."

“Ou seja, frequentemente os desenvolvedores oferecem experiências de entretenimento diretamente para o público, enquanto saem em prejuízo financeiro em troca de vantagens mais abstratas, como “visibilidade” e “networking”. Essa dinâmica prejudica justamente aqueles desenvolvedores que estão em condições financeiras menos favoráveis durante o
desenvolvimento de seus jogos”, conclui o comunicado.

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A carta também menciona a reportagem do Voxel em que um dos desenvolvedores fala sobre a experiência de quem consegue vender jogos na Gamescom Latam. De acordo com a fonte, “mesmo para os estandes que conseguiram vender chaves dos jogos, a conta simplesmente não fecha”, apontando outros gastos envolvidos em apresentar projetos na feira.

Abragames comenta o caso

O Voxel entrou em contato com a Abragames, que foi mencionada na carta aberta. A Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais Eletrônicos disse que atua como parceira institucional da Gamescom Latam e não colabora com a organização do evento. Confira o posicionamento completo:

A Abragames – Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais tem como missão o fortalecimento da indústria nacional de games. Há mais de duas décadas, atua no apoio a estúdios brasileiros, na promoção da formação profissional, na articulação com políticas públicas e na ampliação de oportunidades no mercado internacional.

Nesse papel, a associação valoriza o diálogo construtivo e a escuta ativa dos profissionais do setor, reconhecendo que manifestações públicas são parte legítima de um ecossistema maduro e plural. Nosso foco está em contribuir, de forma responsável e colaborativa, para a evolução contínua da cadeia produtiva de jogos no Brasil.

Na gamescom latam, a Abragames atua como parceira institucional, com o objetivo de promover a visibilidade de estúdios nacionais e apoiar a internacionalização do setor, por meio do Projeto Brazil Games, desenvolvido em parceria com a ApexBrasil.

Esclarecemos que a Abragames não faz parte da organização do evento e não tem ingerência sobre sua estrutura, operação ou gestão logística. Ainda assim, manteremos nosso compromisso em atuar como interlocutora propositiva entre organizadores e desenvolvedores, sempre com o propósito de construir soluções coletivas em benefício dos nossos associados, da comunidade de desenvolvedores e da indústria como um todo.

O que diz a Gamescom Latam?

O Coletivo Game Devs Unidos conclui a carta dizendo que aguarda uma resposta da Gamescom Latam, visando alcançar melhores condições para os devs e “a valorização dos jogos independentes brasileiros”. Após a divulgação do documento, o Voxel entrou em contato com a assessoria do evento em busca de respostas e recebeu um posicionamento oficial.

A organização da Gamescom Latam ressaltou que a participação no Panorama Brasil é “voluntária e opcional”, além de confirmar que o apoio financeiro recebido da Prefeitura de São Paulo foi de R$ 1 milhão. O documento também diz que a equipe está "atenta aos retornos da comunidade e permanece aberta ao diálogo com aqueles que quiserem trabalhar pelo desenvolvimento da indústria de games no Brasil e da América Latina"

Você pode conferir a carta aberta completa neste link e acompanhar mais detalhes no perfil do Game Devs Unidos no Bluesky. E aí, qual a sua opinião sobre o assunto? Comente nas redes sociais do Voxel!
 



Mateus Mognon é jornalista formado pela UFSC com mais de 10 anos de experiência no mercado online. Editor no site do TecMundo, gerenciando os cadernos do Voxel (games) e do Minha Série (entretenimento).