Um coletivo de desenvolvedores brasileiros publicou uma carta aberta sugerindo melhorias no evento Gamescom Latam, incluindo mais segurança e apoio a palestrantes e criadores do nosso país. O movimento ocorre após denúncias de game devs, compartilhadas em reportagem do Voxel, sobre as condições de trabalho na feira em 2025.
Assinada por mais de 250 pessoas, a carta aberta compartilhada pelo Coletivo Devs Unidos (GDU) sugere 12 melhorias para que a Gamescom Latam ofereça melhor estrutura para criadores independentes. Entre as indicações, o grupo sugere aprimoramentos como auxílio-transporte e cachê para palestrantes, além de equipamentos básicos e sala de descanso para quem estiver apresentando seus jogos para o público.
“Eventos no mundo todo fomentam e incentivam os desenvolvedores independentes de seus próprios países. Auxiliar o desenvolvedor pequeno, que muitas vezes está expondo o seu primeiro jogo, é o primeiro passo para termos uma indústria saudável desde a base”, diz a carta. “No Brasil, diversos eventos já cumprem esse papel. Até mesmo eventos fora do país reconhecem e auxiliam desenvolvedores brasileiros com incentivos. Porém, sente-se que a Gamescom ainda tem muito a melhorar nesse quesito.”
“Eventos no mundo todo fomentam e incentivam os desenvolvedores independentes de seus próprios países.”
A carta recebeu assinatura de desenvolvedores e estúdios renomados do Brasil, incluindo nomes por trás de projetos populares como Blazing Chrome, Vampire Survivors e Celeste, que concorreu ao prêmio de jogo do ano no The Game Awards. Além disso, o manifesto conta com apoiadores internacionais, incluindo o youtuber Jacob Geller, que visitou a Gamescom Latam.
Melhorias sugeridas por desenvolvedores para a Gamescom Latam
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Você pode conferir abaixo a lista completa de sugestões de melhorias da carta aberta do coletivo de desenvolvedores:
- Auxílio Transporte para desenvolvedores expondo no Panorama Brasil, incluindo aqueles de São Paulo;
- Auxílio Transporte para os finalistas do BIG Festival, incluindo os de SP;
- Auxílio transporte e cachê para palestrantes;
- Voucher de Alimentação dentro do evento para todos os desenvolvedores do Panorama Brasil;
- Voucher de Alimentação dentro do evento para desenvolvedores do BIG Festival;
- Voucher de Alimentação dentro do evento para os palestrantes;
- Sala de descanso para desenvolvedores, similar à que a imprensa tem acesso;
- Telas para exposição dos jogos disponíveis sem custo extra para todos os desenvolvedores do Panorama Brasil;
- Extensões de tomada disponíveis sem custo extra para todos os desenvolvedores do Panorama Brasil;
- Staff para ajudar os desenvolvedores do Panorama Brasil com o público, inclusive parapermanecer no estande nos momentos de saída para ir ao banheiro ou se alimentar. (A carga atual, de até 12 horas por dia, e com aplicação de multa no caso de saída do estande, é completamente inviável);
- Guarda-volumes sem custos para expositores;
- Mais segurança no evento, a fim de evitar furtos (como ocorrido na última edição).
A carta aberta dos desenvolvedores, que também inclui mais contexto e argumentos envolvendo a cobrança de melhorias, pode ser lida aqui.
Devs reclamaram de segurança e condições no evento de games
Logo após a realização da Gamescom Latam, desenvolvedores brasileiros reclamaram das condições oferecidas pelo evento, especialmente no espaço Panorama Brasil, voltado para jogos indies. O evento foi acusado de não oferecer estrutura básica para os estúdios, com limitações de cadeiras e equipamentos, além de recusar incentivo para palestrantes.
Outro ponto que gerou debate foi a questão de segurança. Além de um desenvolvedor relatar que teve um objeto furtado durante o evento, a organização também oferecia armários com cadeado por uma taxa extra para guardar equipamentos.
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Em suas reclamações após o evento, os desenvolvedores brasileiros também apontaram a ausência de qualquer incentivo fiscal por parte da Gamescom Latam, até mesmo para palestrantes. Segundo os relatos, a organização não oferece qualquer ajuda de transporte e alimentação para os membros de estúdios presentes no evento.
Desenvolvedores rebatem críticas e apontam que evento foi realizado com auxílio de dinheiro público e Lei Rouanet
Na carta aberta, os desenvolvedores rebateram críticas que apareceram na internet após as reclamações sobre a feira ganharem tração. O coletivo aponta que existem outros eventos, nacionais e internacionais, que oferecem ajuda de custo para devs independentes e palestrantes.
“Justamente por termos desenvolvedores experientes no cenário, sabemos que, fora do eixo de eventos como a Gamescom Latam ou BGS, é comum que os eventos forneçam auxílios para desenvolvedores independentes”, diz a carta aberta. O coletivo menciona feiras como a GDC, que oferece até US$ 500 para desenvolvedores palestrantes, e o Festival Jogatório, que traz estande gratuito e ajuda até mesmo para viagem.
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O texto também ressalta que a Gamescom Latam 2025 foi realizada com um alto orçamento, conta com apoio fiscal público e da Lei Rouanet. Segundo os desenvolvedores, oferecer o apoio solicitado custaria em torno de 40 a 60 mil reais, o que representaria 0,15% do investimento do evento. O valor declarado no orçamento apresentado para a Prefeitura de São Paulo no começo do ano é de aproximadamente R$ 22,8 milhões.
“Mais de 50 vezes esse valor foi utilizado apenas no marketing do evento[...], e quase 3 vezes o valor tão somente no Coquetel exclusivo de pré-lançamento (evento fechado com buffet, apenas para convidados exclusivos)”, ressalta o texto. A carta aponta que parte do dinheiro da Abragames destinado para a feira foi utilizado para trazer influenciadores estrangeiros para o evento, como Jacob Geller, que também assina o manifesto em busca de melhorias para desenvolvedores e palestrantes.
Jogos indies também são atrações na Gamescom Latam, indicam devs
O coletivo de desenvolvedores ainda ressalta que os jogos indies também são vistos como atrações dentro da Gamescom Latam, que nasceu como BIG Festival, evento voltado para produções independente. A carta ainda aponta que alguns estúdios não conseguem vender produtos, pois os títulos apresentados costumam estar em período de pré-lançamento.
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“Diferente de uma feira puramente comercial, a grande maioria dos desenvolvedores não está no evento para vender diretamente sua mercadoria para o público. Principalmente porque muitos dos jogos disponíveis em feiras ainda não estão disponíveis para compra”, explica o manifesto.
"Frequentemente os desenvolvedores oferecem experiências de entretenimento diretamente para o público, enquanto saem em prejuízo financeiro em troca de vantagens mais abstratas, como 'visibilidade' e 'networking'."
“Ou seja, frequentemente os desenvolvedores oferecem experiências de entretenimento diretamente para o público, enquanto saem em prejuízo financeiro em troca de vantagens mais abstratas, como “visibilidade” e “networking”. Essa dinâmica prejudica justamente aqueles desenvolvedores que estão em condições financeiras menos favoráveis durante o
desenvolvimento de seus jogos”, conclui o comunicado.
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A carta também menciona a reportagem do Voxel em que um dos desenvolvedores fala sobre a experiência de quem consegue vender jogos na Gamescom Latam. De acordo com a fonte, “mesmo para os estandes que conseguiram vender chaves dos jogos, a conta simplesmente não fecha”, apontando outros gastos envolvidos em apresentar projetos na feira.
Abragames comenta o caso
O Voxel entrou em contato com a Abragames, que foi mencionada na carta aberta. A Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais Eletrônicos disse que atua como parceira institucional da Gamescom Latam e não colabora com a organização do evento. Confira o posicionamento completo:
A Abragames – Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais tem como missão o fortalecimento da indústria nacional de games. Há mais de duas décadas, atua no apoio a estúdios brasileiros, na promoção da formação profissional, na articulação com políticas públicas e na ampliação de oportunidades no mercado internacional.
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Nesse papel, a associação valoriza o diálogo construtivo e a escuta ativa dos profissionais do setor, reconhecendo que manifestações públicas são parte legítima de um ecossistema maduro e plural. Nosso foco está em contribuir, de forma responsável e colaborativa, para a evolução contínua da cadeia produtiva de jogos no Brasil.
Na gamescom latam, a Abragames atua como parceira institucional, com o objetivo de promover a visibilidade de estúdios nacionais e apoiar a internacionalização do setor, por meio do Projeto Brazil Games, desenvolvido em parceria com a ApexBrasil.
Esclarecemos que a Abragames não faz parte da organização do evento e não tem ingerência sobre sua estrutura, operação ou gestão logística. Ainda assim, manteremos nosso compromisso em atuar como interlocutora propositiva entre organizadores e desenvolvedores, sempre com o propósito de construir soluções coletivas em benefício dos nossos associados, da comunidade de desenvolvedores e da indústria como um todo.
O que diz a Gamescom Latam?
O Coletivo Game Devs Unidos conclui a carta dizendo que aguarda uma resposta da Gamescom Latam, visando alcançar melhores condições para os devs e “a valorização dos jogos independentes brasileiros”. Após a divulgação do documento, o Voxel entrou em contato com a assessoria do evento em busca de respostas e recebeu um posicionamento oficial.
A organização da Gamescom Latam ressaltou que a participação no Panorama Brasil é “voluntária e opcional”, além de confirmar que o apoio financeiro recebido da Prefeitura de São Paulo foi de R$ 1 milhão. O documento também diz que a equipe está "atenta aos retornos da comunidade e permanece aberta ao diálogo com aqueles que quiserem trabalhar pelo desenvolvimento da indústria de games no Brasil e da América Latina"
- Confira o posicionamento completo aqui: Gamescom Latam responde carta aberta de desenvolvedores: "Participação é opcional"
Você pode conferir a carta aberta completa neste link e acompanhar mais detalhes no perfil do Game Devs Unidos no Bluesky. E aí, qual a sua opinião sobre o assunto? Comente nas redes sociais do Voxel!