Nova lei de direitos autorais quer adequar o Brasil à era digital

Por Felipe Gugelmin Valente

18/06/2010 - 02:302 min de leitura

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Imagem de Nova lei de direitos autorais quer adequar o Brasil à era digital no site TecMundo

US$ 65 mil. Esse é o preço que uma pessoa terá de pagar caso possua o modelo de 120 GB do iPod Classic e deseje lotar o dispositivo com músicas. Isso, é claro, se respeitar todos os termos da lei de direitos autorais brasileira e pagar o valor de US$ 1 por cada canção baixada através da Apple Store.

E não adianta argumentar que esse valor é irreal, já que muita gente transfere sua antiga coleção de discos para o computador e depois a passa para o dispositivo. Afinal, segundo a atual lei de direitos autorais, datada de 1998, transformar um disco de música original em MP3 é crime, mesmo que o usuário tenha pago por ele e só tenha objetivos pessoais.

Quando a lei 9.610/98 foi formulada o mundo apresentava um cenário completamente diferente, em que nem sequer passava pela cabeça a ideia de transportar mais do que 15 músicas dentro do bolso. Afinal, a opção mais moderna daquela época eram os finados aparelhos discman, e termos como distribuição digital nem eram cogitados.

Atento às mudanças sofridas desde então, desde 2005 o Ministério da Cultura (MinC) discute a possibilidade de revisar a lei. Para incluir o uso de novas tecnologias e modificar alguns pontos abusivos da lei, o MinC abriu no dia 14 de junho uma consulta popular em seu site para discutir o texto do novo projeto de lei de direitos autorais.

Lei contempla as tecnologias digitais

A revisão da lei de direitos autorais brasileiras se faz necessária tanto para se adequarem práticas inexistentes em 1998 - como a distribuição digital de arquivos -, quanto para refletir uma nova forma de encarar a produção cultural.

Enquanto países como a França e os Estados Unidos optam por uma legislação mais dura e que pune severamente qualquer infração, o Brasil vai ao sentido contrário e busca aceitar a cultura do compartilhamento que surgiu com a internet.

Assim, pontos como a proibição da transferência de um CD original em MP3 e o caráter marginal com que a lei encara a produção de remixes devem ser totalmente revisados. O objetivo é gerar um maior equilíbrio entre as gravadoras que realmente se beneficiam com a lei atual e os artistas responsáveis pela produção do conteúdo.

O projeto de revisar a lei de direitos autorais brasileira também serve como uma forma de tentar combater a pirataria em um momento em que o país é quase totalmente dominado por conteúdo falsificado.

Além de tornar legais práticas comuns como a gravação de filmes exibidos na televisão e o xerox de livros didáticos com edições esgotadas, a nova lei tem pontos que facilitam o acesso à cultura por quem não dispõe de condições materiais para pagar o preço cobrado por gravadoras e editoras atualmente.

Interesse privado X acesso do consumidor

As principais criticas em relação à lei 9.610/98 que está em vigor é a proteção excessiva dada aos produtores de conteúdo, que limitam muito o que o usuário pode fazer com o produto adquirido. Alguns artigos são tão excessivos que o consumidor se torna praticamente um refém da companhia, tendo que gastar dinheiro se quiser realizar legalmente ações consideradas corriqueiras.

A revisão da lei também tem o objetivo de fortalecer os próprios artistas, ao impor regras para a realização de contratos que impeçam a utilização de cláusulas abusivas. Com o texto atual, o produtor de conteúdo tem pouca força na hora de estabelecer termos de contrato, e não é incomum encontrar casos de bandas que, embora tenham vendido muito, não viram quase nada do lucro obtido.

É claro que uma discussão desse tipo não poderia ser discutida sem alguma espécie de polêmica, e entidades de proteção do artista como a Associação Brasileira de Música e Arte (Abramus) já se manifestaram contra as mudanças propostas. Segundo o presidente da Abramus, Roberto Mello, o projeto é intervencionista e fere o direito privado. Ele acrescenta que a lei atual é muito recente e contempla de forma satisfatória os meios digitais.


Por Felipe Gugelmin Valente

Especialista em Redator

Redator freelancer com mais de uma década de experiência em sites de tecnologia, já tendo passado pelo Adrenaline, Mundo Conectado, TecMundo, Voxel, Meu PlayStation, Critical Hits e Combo Infinito.


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