A segunda temporada de O Ensaio (The Rehearsal), série da HBO comandada por Nathan Fielder, chegou ao fim com um episódio ousado e incrivelmente ambicioso. Com uma mistura de metalinguagem, questionamentos existenciais e um projeto de realidade simulada que desafia os limites entre documentário e ficção, o capítulo final elevou o conceito do programa a novas alturas, literalmente.
Após uma temporada inteira dedicada à segurança da aviação e à comunicação entre pilotos, Fielder realizou um feito histórico, que será desdobrado nos parágrafos a seguir, que trazem em detalhes tudo sobre o final da temporada. Com isso, se você ainda não assistiu ao capítulo final da segunda temporada, fique alerta, pois o texto a seguir contém spoilers da série.
O que acontece no final de O Ensaio Temporada 2?
O último episódio da segunda temporada de O Ensaio traz o desfecho dos dois grandes assuntos abordados desde o início da nova leva de episódios: a comunicação de pilotos em aeronaves e o estado mental de Nathan Fielder, o criador da série.
A série, que sempre brincou com os limites da preparação e da performance, transformou-se em um estudo íntimo sobre a psique do próprio criador. O que começou como um experimento para entender dinâmicas de cabine se revelou uma jornada interior, com Fielder tentando provar a si mesmo — e talvez ao mundo — que era capaz de um grande feito: comandar um avião comercial com passageiros, mesmo sem atender aos padrões convencionais da indústria.
Enquanto se preparava para pilotar um Boeing 737, o criador da produção também realizou exames para saber seu estado mental e responder uma dúvida que surgiu na temporada: afinal, Nathan Fielder é autista? A conclusão da temporada entregou um espetáculo que pode ser considerado uma das maiores façanhas já exibidas na televisão e streaming, principalmente se considerarmos o gênero de comédia.
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Nathan Fielder vira piloto de verdade no episódio final
No último episódio, Nathan Fielder revela algo que vinha sendo cuidadosamente escondido do público: ele estava, há dois anos, aprendendo a pilotar um avião de verdade. Enquanto a maioria dos aspirantes a piloto começa a voar sozinha após 10 a 30 horas de voo supervisionado, Nathan levou mais de 120 horas até conseguir realizar pousos aceitáveis.
Sua dificuldade foi tanta que instrutores passaram a revezá-lo entre si, tentando entender o que havia de “errado” com ele. No fim das contas, ele finalmente se torna piloto e parte para um grande desafio: pilotar um Boeing 737 e gravar a cabine para capturar as reações da dupla guiando a aeronave.
Ao longo do episódio, acompanhamos Fielder em um treinamento intensivo para pilotar um Boeing 737. E, graças a uma brecha nas regulamentações, ele consegue montar um voo simulado com passageiros — todos atores — sem infringir as regras da aviação comercial. Ele também convence um dos pilotos que participou da temporada a assumir o manto de copiloto nesse voo experimental.
Por trás disso, Nathan também escondia outra motivação: provar que ele, mesmo com seus dilemas emocionais e comportamentais, podia controlar uma aeronave em pleno voo. Para isso, ele também realiza uma série de exames que prometem revelar seu diagnóstico mental, mas os resultados só acabam saindo após o dia do voo.
Nathan Fielder consegue pilotar um voo Boeing 737 com passageiros
O voo simulado acontece a partir do aeroporto de San Bernardino e dura pouco mais de duas horas. Apesar de ter tudo sob controle tecnicamente, Fielder força diversas situações desconfortáveis com seu copiloto, Aaron, como a presença de um segundo avião com câmeras externas voando ao lado do 737.
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Em nome da "honestidade emocional", ele propõe um exercício de atuação no qual ambos interpretam pilotos com total liberdade para dizer o que sentem. É nesse momento que Aaron aponta um erro real cometido por Fielder durante a decolagem: ele esqueceu de recolher os flaps.
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Esse detalhe se transforma em símbolo do que a série tenta discutir: a importância de permitir falhas e comunicar inseguranças sem medo — algo que, segundo Fielder, falta na aviação e na vida. A forma como ele reage ao feedback, dizendo que “adora saber o que faz de errado”, é ao mesmo tempo cômica e profundamente humana, mostrando sua busca desesperada por validação e pertencimento.
Felizmente, o voo termina sem nenhuma tragédia. Nathan e seu copiloto conseguem pousar o avião e são aplaudidos pelos atores que se passaram por passageiros. No fim das contas, todo mundo sobreviveu ao voo televisionado com um comediante como piloto.
Afinal, Nathan Fielder é autista?
Após o voo, somos transportados para a final do reality show Wings of Voice, promovido durante a temporada, em que pilotos reais escolhem um artista musical para uma grande apresentação. Ao som de Evanescence, o público vê que Fielder recebe uma mensagem de voz da clínica médica com os resultados.
Em um dos momentos mais impactantes da série, ele simplesmente apaga a mensagem e decide ignorar os resultados do exame. A ação simboliza a aceitação de uma mentira confortável: se ele não ouvir o diagnóstico, nada pode impedi-lo de continuar pilotando — ou vivendo como se tudo estivesse sob controle.
Assim, o público não descobre se Nathan Fielder é autista ou possui algum outro diagnóstico. Assim como outros pilotos que passaram pelo show, o criador da série resolve resguardar seus sentimentos e exames médicos para não perder a sua licença para voar.
Nathan Fielder continua sendo piloto
O epílogo do episódio revela que Fielder continuou pilotando aviões vazios como freelancer, cruzando o oceano Atlântico e sobrevoando florestas na América do Sul e na África, passando até pelo Brasil. “Eles só deixam os mais inteligentes e capacitados voarem esse tipo de avião”, diz o criador da série. “Se você está aqui, então deve estar tudo bem com você.”
A fala é ao mesmo tempo irônica e melancólica, encapsulando a essência de Nathan Fielder na série: alguém que, incapaz de confrontar seus próprios sentimentos, se refugia em tarefas meticulosas e rituais complexos para sentir que tem valor.
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Essa fuga para o alto representa a última forma de ensaio de Nathan Fielder: um treinamento eterno para a vida real que ele nunca consegue encarar de frente. É também uma crítica sutil a sistemas que valorizam a performance acima da vulnerabilidade, e que encorajam indivíduos a esconderem suas fragilidades para manterem suas funções.
Final explicado: o que significa o desfecho da temporada
O final de O Ensaio não oferece respostas diretas, mas deixa pistas claras sobre o verdadeiro objetivo da jornada. Ao esconder seu treinamento de piloto do público durante toda a temporada, Fielder ensaia a própria realidade em segredo, representando uma camada de ficção dentro da não ficção.
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A escolha de esconder o possível diagnóstico e seguir em frente, mesmo com dúvidas, é um reflexo direto da tese central da série: todo mundo está sempre ensaiando alguma coisa, e muitas vezes o espetáculo é mais importante do que a verdade. O comediante também mostra as fragilidades do sistema de segurança aéreo dos Estados Unidos, já que achou brechas para pilotar sem muita experiência e provou, com sua própria licença, que pilotos escondem diagnósticos e sentimentos para seguirem em sua função.
Fielder também atingiu seu objetivo e provou que podia voar, mas o que ele perdeu no processo? Em vez de confrontar suas verdades, ele escolheu ignorá-las, e talvez esse seja o maior risco que o comediante correu: não o voo em si, mas a recusa em se conhecer por completo.
A segunda temporada de O Ensaio já está disponível na HBO Max. O que você achou dos novos episódios? Comente nas redes sociais do Minha Série! Estamos no Threads, Instagram, TikTok e até mesmo no WhatsApp. Venha acompanhar filmes e séries com a gente!
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