Men: o filme de terror que vai assombrar sua mente (crítica)

Por Jean Carlos Foss

06/01/2023 - 12:304 min de leitura

Men: o filme de terror que vai assombrar sua mente (crítica)

Fonte :  A24 

Imagem de Men: o filme de terror que vai assombrar sua mente (crítica) no tecmundo

Se você também é um cinéfilo de plantão, já deve saber que a produtora A24 é responsável por alguns dos filmes mais interessantes dos últimos anos, especialmente no gênero de terror. Hereditário, Midsommar, X – A Marca da Morte e A Bruxa, por exemplo, são obras que fazem parte do ótimo catálogo da marca, que segue estendendo seu alcance dentro do cinema de horror com novos títulos a cada ano.

Entre as novidades de terror mais recentes da A24, está o filme Men: Faces do Medo, lançado em setembro de 2022. Concebido no Reino Unido, o longa foi escrito e dirigido por Alex Garland, que também deu vida aos envolventes Ex_Machina: Instinto Artificial (2014), Aniquilação (2018) e Extermínio (2002).

Men, contudo, difere muito dos trabalhos anteriores de Garland ao trazer uma narrativa mais intimista, dramática, centrada em pouquíssimos personagens. Porém, não se engane: Faces do Medo entrega muito, mesmo com poucos elementos, e não deixa de assustar ao mesmo tempo em que tece críticas pesadas e pertinentes. Mas falo mais sobre isso daqui a pouco. 

Antes disso, que tal entendermos um pouco mais sobre a trama de Men e o porquê dessa história ter dado o que falar em 2022, hein? Vamos nessa!

O que é Men: Faces do Medo?

A trama de Men: Faces do Medo é bem simples, na verdade. Nela, acompanhamos a personagem Harper (Jessie Buckley), uma mulher de meia-idade que aluga uma casa de campo nos arredores de Londres a fim de relaxar. Até aí, tudo certo. Porém, o motivo para ela “fugir” de Londres em busca de paz é assombroso: ela testemunhou o suicídio do próprio marido, James (Paapa Essiedu).

Após uma tremenda discussão, Harper diz que irá se divorciar de James e que não aguenta mais o comportamento do amado que, de amoroso, não tem nada. Isso porque, ao longo da narrativa, descobrimos que James era um cara extremamente obsessivo, possessivo, ciumento e violento. Motivos que levam Harper a querer a separação.

James não aceita a decisão da moça e, como “resposta”, se joga do prédio em que o casal morava, enquanto Harper está dentro de casa, vendo tudo da janela de seu apartamento. Traumatizada pelo episódio, ela decide dar um tempo de tudo e ir para a tal casa isolada no interior para esquecer o que aconteceu, se é que isso é possível. 

Na residência calma, cercada de árvores, plantas e silêncio, Harper conhece o locador do espaço, Geoffrey (Rory Kinnear), um homem levemente esquisito e prestativo que, a princípio, parece inofensivo. Ele mostra a casa para Harper, dá dicas do que fazer na região e faz questão de mostrar que está sempre disponível, caso ela precise. 

O único contato da protagonista com a “realidade” se dá por meio digital, nas conversas diárias pelo celular ou pelo notebook que ela tem com sua melhor amiga, Riley (Gayle Rankin), com quem compartilha sua experiência e seus pensamentos.

A estadia de Harper vai bem, até o momento em que ela dá de cara com a figura de um homem nu e assustador em um túnel durante uma caminhada na floresta que cerca a residência. A partir daí, o rapaz passa a segui-la e uma série de bizarrices começa a acontecer, colocando Harper em grande perigo.

Men consegue assustar ao passo em que trata de um tema social relevante.Men consegue assustar ao passo em que trata de um tema social relevante.

ATENÇÃO: A PARTIR DE AGORA, O TEXTO TERÁ SPOILERS DE MEN: FACES DO MEDO. NÃO CONTINUE A LER SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU O FILME!

Análise narrativa e crítica de Men: Faces do Medo

Men é um soco no estômago, do início ao fim. Garland foi muito assertivo e eficaz ao criar uma obra que consegue não apenas causar medo e tensão, mas que também possui várias camadas narrativas, uma vez que a trama é uma grande alegoria, com diversas críticas e metáforas, sobre um tema principal: os comportamentos tóxicos dos homens em relação às mulheres. 

Nesse sentido, o título do filme já entrega bastante, já que a obra retrata, essencialmente, homens e suas diferentes faces problemáticas frente a figuras femininas. Durante a história, portanto, Garland se preocupa em expor como determinados padrões e ações masculinas podem afetar e prejudicar mulheres, que não deveriam ter que "aguentá-las", mas que, infelizmente, ainda são seus principais alvos. 

Para sintetizar essa ideia central, Men utiliza a protagonista Harper como uma espécie de "cobaia" e principal alvo de diversos males e atitudes terríveis. Primeiro, ela é abusada emocionalmente e fisicamente por seu marido, James, que, como já citado aqui, é ciumento, violento e imaturo emocionalmente. Quando ela decide, finalmente, deixar o homem, ele a chantageia emocionalmente e diz que irá se suicidar caso ela parta. O que ele faz, jogando toda a "responsabilidade" do casamento falho nas mãos de Harper (o que, claro, não é culpa dela).

Após essa primeira experiência horrível, Harper tenta se recompor, mas seu trauma apenas aumenta à medida em que ela tem contato com outros homens ao longo da narrativa, todos interpretados por Kinnear, que faz um ótimo trabalho ao viver diferentes personagens, todos com peculiaridades e características distintas, mas igualmente assustadores. 

As interações de Harper com outros homens durante Men mostram comportamentos problemáticos.As interações de Harper com outros homens durante Men mostram comportamentos problemáticos.

Ao retratar todos os personagens masculinos do filme através do mesmo ator, Garland passa a mensagem de que comportamentos tóxicos podem estar presentes em todos os homens. Ou seja, eles seriam iguais a partir do momento em que escolhem, conscientemente ou não, reproduzir as mesmas atitudes problemáticas. 

E essa ideia é reforçada ainda mais na bizarra sequência final do longa, em que homens vão nascendo uns dos outros (sim, literalmente), dando a entender que essa toxicidade masculina em relação às mulheres seria cíclica e passada de geração para geração. E, enquanto esse padrão não for quebrado, nada mudará. 

E o filme acerta ao deixar bem claro quais seriam alguns desses padrões comportamentais durante as interações de Harper com figuras masculinas. O padre, por exemplo, diz a ela que a culpa do suicídio de James é, de fato dela, já que ela não teria dado outra chance ao rapaz. Um absurdo, claro. 

O mesmo padre, aliás, apresenta alguns desejos sexuais em relação à protagonista e, em uma cena específica, revela à garota que teria sido ela quem colocou esses "pensamentos" na cabeça dele. Ou seja, ela teria que deixar de ser mulher ou de sair de casa a fim de evitar que homens a desejem?

Existem diversos outros casos similares demonstrados na narrativa, mas falar de cada um deles deixaria o texto muito extenso. Mas acho que você entendeu a ideia. 

Ao fim, Harper parece conseguir, mesmo que temporariamente, vencer seu trama em relação a James (que é o último homem a nascer na grotesca cena final, indicando que ele era uma das raízes do trauma da moça). Porém, a narrativa brinca conosco ao colocar em cena a melhor amiga de Harper, que aparece para socorrê-la. E, adivinhe só? Ela está grávida. 

Dessa forma, o filme coloca uma dúvida na nossa cabeça: será um menino a nascer? Se sim, como ele será quando crescer? Entrará nesse ciclo vicioso de toxicidade ou o romperá? Seja como for, Men é um grande tapa na cara e ajuda a elucidar ainda mais um importante tema, que não pode, jamais, ser deixado de lado.   


Por Jean Carlos Foss

Especialista em Redator

Jornalista | Roteirista | Produtor de conteúdo


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