Covid-19: variante brasileira pode ter carga viral 10 vezes maior

Por André Luiz Dias Gonçalves

22/04/2021 - 03:002 min de leitura

Covid-19: variante brasileira pode ter carga viral 10 vezes maior

Fonte :  Freepik 

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A variante brasileira do novo coronavírus, chamada P.1 e surgida em Manaus (Amazonas), pode ter uma carga viral 10 vezes maior do que as demais cepas causadoras da covid-19 conhecidas até o momento, conforme aponta um estudo realizado por especialistas em Virologia e publicado recentemente.

Coordenada pelo cientista Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia, a pesquisa genômica aconteceu entre março de 2020 e janeiro de 2021, envolvendo pacientes de 25 cidades do Amazonas. Nesse período, primeiramente eles identificaram duas variantes na região, B.1.195 e B.1.128, das quais a segunda se tornou dominante em setembro do ano passado. Depois, após se tornar a cepa principal do Sars-CoV-2 no estado e experimentar diferentes cenários onde as mutações geraram vantagens para o vírus, a B.1.128 criou a oportunidade perfeita para o surgimento da P.1 em dezembro — conforme afirmação de Naveca em entrevista à Rádio França Internacional (RFI).

A P.1 se tornou dominante nos testes feitos em Manaus no início do ano.A P.1 se tornou dominante nos testes feitos em Manaus no início do ano.

Trazendo variações na proteína Spike, responsável pela ligação do coronavírus com as células do organismo, mudanças que podem ter relação com uma maior transmissibilidade e a possibilidade de reduzir a resposta imune dos anticorpos, a variante P.1 se espalhou rapidamente, tornando-se a linhagem dominante no Amazonas e também em outros estados, conforme o pesquisador.

Aumento de casos entre os jovens

A carga viral mais alta da P.1, identificada pelo estudo de epidemiologia genômica, facilita a transmissão do novo coronavírus, segundo Naveca. Tal característica, associada aos encontros durante as festas de fim de ano e as férias de janeiro, pode ter sido a causa da explosão de infecções e mortes no Amazonas no início de 2021.

Sua predominância também justificaria o aumento de casos de covid-19 entre os mais jovens durante a segunda onda da pandemia, quando pessoas na faixa dos 18 aos 59 anos de idade passaram a ser as mais afetadas pela doença, ao contrário dos primeiros meses da crise sanitária, quando os idosos representavam a maioria das internações.

A maior quantidade de jovens infectados, no momento, pode ter relação com a nova cepa.A maior quantidade de jovens infectados, no momento, pode ter relação com a nova cepa.

Porém, o líder do estudo afirma que há outros fatores atuando em conjunto com a P.1 para influenciar a infecção nessa faixa etária, como a maior exposição dos jovens ao vírus — o contato pode acontecer no trabalho e em festas clandestinas, entre outras ocasiões.

Preocupações com a P.1

As características da variante brasileira, incluindo a maior capacidade de transmissão e até uma suposta relação com o aumento da gravidade dos casos, não tratada neste estudo, tem causado preocupação em outros países. A França, por exemplo, chegou até suspender voos do Brasil.

Entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) também mostraram cautela em relação a ela, classificando a P.1 como uma das três variantes mais preocupantes do momento — as outras são a B.1.351 e a B.1.157.


Por André Luiz Dias Gonçalves

Especialista em Redator

Jornalista formado pela PUC Minas, escreve para o TecMundo e o Mega Curioso desde 2019.


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