Cientistas 'camuflam' nanorrobôs para enviá-los a cérebros de ratos

Por JORGE MARIN

25/03/2021 - 13:302 min de leitura

Cientistas 'camuflam' nanorrobôs para enviá-los a cérebros de ratos

Fonte :  Zhang et al. 

Imagem de Cientistas "camuflam" nanorrobôs para enviá-los a cérebros de ratos no tecmundo

Uma pesquisa publicada ontem (24) na revista ScienceRobotics traz uma nova forma de tratamento de tumores cerebrais que parece saída de um livro de ficção científica: as drogas são entregues diretamente aos tecidos doentes por um time de robôs microscópicos viajando de carona com um exército de neutrófilos, e vestidos de Escherichia coli, uma bactéria frequentadora do intestino humano.

Nanorrobôs bio-híbridos nadadores, impulsionados por bactérias ou espermatozoides e com capacidade de autopropulsão e navegação, têm se tornado um fascinante campo de pesquisas, principalmente após adquirirem a capacidade de locomoção controlável em áreas do corpo de difícil acesso, para entrega não-invasiva de drogas e tratamentos.

Fonte: Zhang et al./DivulgaçãoFonte: Zhang et al./Divulgação

Atualmente, a grande dificuldade para a utilização de nanorrobôs tem sido os ataques do sistema imunológico que elimina as micronaves tão logo elas entram no corpo. Mas, segundo o principal autor do estudo, Zhiguang Wu, a barreira hematoencefálica não é o único empecilho. Há também obstáculos físicos: os tecidos densos, “difíceis de superar para mover os nanorrobôs ao redor do corpo”.

Contornando obstáculos

A equipe de Wu levou oito anos para conseguir operacionalizar enxames de nanorrobôs microscópicos capazes de viajar pela corrente sanguínea, do rabo do rato até o seu cérebro, onde estão os gliomas, tumores cerebrais que surgem das células glias, que “moram” no cérebro.

Ao serem injetados no organismo dos ratos, o primeiro problema dos nanorrobôs foi serem rejeitados pelos glóbulos brancos do sangue. Mas os cientistas contornaram o problema, revestindo os bots carregados de fármacos com uma membrana da bactéria E. coli, o que os transformou em “petiscos” altamente desejados pelos neutrófilos naturais, que os fagocitaram na hora.

Camuflados dentro dos neutrófilos, os nanorrobôs se transformaram em “neutrobôs” e foram guiados magneticamente pelos cientistas em direção ao cérebro dos ratos, uma espécie de “cavalo de Troia” do bem. O disfarce foi usado para cruzar a barreira hematoencefálica, permitindo que os robôs se agregassem de forma autônoma dentro do encéfalo e lá entregassem o medicamento diretamente aos tumores-alvo.

Aplicações para os neutrobôs

De acordo com Wu, as utilidades das injeções de neutrobôs são inúmeras, pois eles “não são projetados exclusivamente para o tratamento de gliomas”. Ao herdar as características biológicas e funções dos neutrófilos naturais, esses nanorrobôs se transformam em uma plataforma de delivery capaz de entregar terapia ativa para várias doenças cerebrais, como trombose, apoplexia e epilepsia”.

Tanto para administração de medicamentos como em microcirurgias, a utilização de nanorrobôs travestidos de neutrófilos é um caminho promissor para a futura biomedicina de precisão.


Por JORGE MARIN

Especialista em Redator


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